terça-feira, 8 de julho de 2008

Homenagem ao Grande Idealista Hélio Silva

As cidades que habitam a Gente

Calabura, eucalipto, bambu, ipê, ingá, peroba, manacá-da-serra, jatobá, pau-ferro, araribá, cerejeira do Japão, embaúba, quaresmeira, abacateiro…Assim vai Hélio da Silva apontando o dedo e identificando as 152 espécies de árvores escolhidas por ele para arborizar o Parque Linear Tiquatira, na Penha, zona leste de São Paulo. Quem caminha pelo Parque com atenção pode contar bem mais de mil árvores. Na verdade, de 2003 até hoje Hélio já plantou mais de 5 mil árvores. Mas é que a gente se perde ouvindo o canto dos pássaros…
O Tiquatira é o único espaço usado pelos moradores da região para se exercitar. A Penha possui cerca de 470 mil habitantes, abrangendo os distritos de Penha, Cangaíba, Vila Matilde e Artur Alvim. Com o plantio das árvores, o barulho do tráfego de veículos intenso ao longo das avenidas tem ficado cada vez mais distante.
Todo mês Hélio enfia as mãos nos próprios bolsos e saca de R$ 500 a R$ 800,00 para plantio e manutenção das árvores. Mas ele não encara isso como gasto: “Isso é o mínimo que eu acho que posso fazer. Pra deixar alguma coisa melhor. Se tivessem feito alguma coisa eu estaria com um mundo melhor hoje. Imagine isso tudo arborizado. Às vezes fecho os olhos e fotografo já como vai ficar isso daqui a uns anos”
Hélio é gerente comercial de uma grande empresa de produtos alimentícios orgânicos. De segunda a sexta, trabalha como qualquer um de nós. Sábados, domingos e feriados são devotados ao plantio na Penha. Morador da região há 48 anos, vindo da cidade de Promissão, interior de São Paulo, é reconhecido por todos quando anda pelas ruas do entorno do Parque. Aquele micro-universo dentro de uma megalópole de 11 milhões de habitantes parece mesmo uma cidade de interior. Hélio trouxe Promissão com ele. Não somos nós que habitamos as cidades, afinal. Mas as cidades que habitam a gente…
Hélio tem três filhos. Um deles está fazendo MBA em Gestão Ambiental na Alemanha, depois de ter feito Engenharia Química na USP e Gestão Ambiental na Fundação Getúlio Vargas. Antes, esse mesmo filho ajudava Hélio no plantio. Hoje ele conta com dois colaboradores do bairro para exercitar o dedo verde aos finais de semana.
As espécies escolhidas para plantio são quase todas nativas de São Paulo (cerca de 90%): “Essas árvores existiam aqui há 100, 200 anos, temos que aproveitar o banco genético [do solo] porque assim elas se adaptam bem”. Hélio carrega uma lista com os viveiros do estado de São Paulo, onde costuma comprar as mudas. Também visita viveiros e procura espécies para plantio em outros estados. Como a chamada bolão-de-ouro, que ele trouxe de Curitiba e plantou no Tiquatira. De cada doze árvores, uma é frutífera “para atrair pássaros”, justifica.
O Tiquatira é uma área pública municipal. Como a Prefeitura não dá conta de arborizar e cuidar de uma cidade que cresceu de forma tão caótica, Hélio dá uma ‘mãozinha’. Ele planta e dá manutenção. A Prefeitura apara o mato e fornece terra de boa qualidade para o plantio. Além disso, de três em três meses Hélio usa calcário para corrigir o PH do solo. Ele se lembra que há alguns anos, quando caminhava no Tiquatira, a faixa extensa que acompanha o curso do rio era árida, sem verde nem sombra, barulhenta por causa do trânsito intenso das avenidas. Hoje o barulho já se perde em meio aos passarinhos e algumas copas de árvores.
Hélio monta o plano de manejo e o projeto executivo do Parque em sua cabeça e já vislumbra como estará diferente o cenário daqui a alguns anos: uma alameda sombreada por árvores, com bancos a cada cinco metros, para os idosos caminharem; um bosque de vegetação fechada bem ao centro, ao longo do curso d’água; grandes árvores seguindo as avenidas, isolando quase que completamente o barulho dos automóveis.
O Tiquatira é o primeiro parque linear de São Paulo. Esse tipo de parque está previsto no Plano Diretor Estratégico da cidade e é uma das alternativas à canalização dos cursos d’água e à impermeabilização das várzeas dos rios. Com a instalação de equipamentos de lazer nas margens dos cursos d’água evita-se a construção de habitações irregulares e ampliam-se as ofertas de lazer da população.
Piscinão Rincão
Nunca tinha entrado num Piscinão. Aqui em São Paulo existem 15: nove na zona leste, três na zona norte, dois na zona sul e um na região central. Estratégia nonsense inventada para represar o excesso de água em época de chuva, minimizando (?) enchentes. Normalmente é um espaço árido, que requer manutenção constante e torna-se um depósito de sujeira em épocas secas.
O Piscinão Rincão, na Penha, possui uma área de 70 mil m² e uma capacidade para 304.300 m³ de água. Com passo apressado, percorro sua parte superior em 5 a 7 minutos. É lá, de onde se tem a visão daquele grande domo ao contrário, que Hélio tem plantado árvores para criar um espaço sombreado para os moradores do local fazerem sua caminhada diária. Olhando o declive é fácil ver os sinais da passagem dele por ali. No Rincão, duas mil árvores já foram plantadas, de 140 espécies. “Todos os piscinões estão abandonados. Este aqui eu estou cuidando. A Prefeitura me dá terra boa. A terra aqui é muito ruim, era um aterro. Tenho que escolher espécies que se adaptem bem a esse tipo de solo.” Hélio começou o plantio no Piscinão Rincão há cerca de dois anos.
Percorrendo a ‘pista’ utilizada pela população local para se exercitar, ouço cantos variados de pássaros. A intenção de Hélio é criar uma espécie de corredor para os pássaros entre o Tiquatira e o Rincão. Parece que a idéia já está funcionando. Hélio volta a apontar: goiaba, ingá, pitanga, calabura, amora, embaúba, araucária, açaí, ipê roxo…
Viagra da natureza
A primeira árvore plantada por Hélio no Tiquatira, em 2003, foi uma calabura, que ele diz ser conhecida como viagra da natureza por atrair muitos pássaros e propiciar o acasalamento. Por seu rápido crescimento e intensidade de frutificação, a calabura é recomendada como espécie de enriquecimento de fauna. É originária das Antilhas e tem frutos muito apreciados pelos passados. Segundo dados do Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (IPEF), cada fruto da calabura pode conter, em média, 4.450 sementes. Hélio diz que a espécie atrai cerca de 52 espécies de pássaros.
No dia em que o neto João Pedro nasceu, Hélio plantou 50 árvores no Tiquatira. “São pra ele. O João Pedro um dia vai falar pro filho dele: seu bisavô plantou isso aqui. E provavelmente meu bisneto vai falar pro filho dele a mesma coisa. Talvez isso estimule, talvez algum deles resolva seguir com esse trabalho.” O
plano inicial era plantar 5 mil árvores até 2007. Esse número já foi ultrapassado. A meta de Hélio agora é plantar 15 mil mudas até 2014. Algumas árvores plantadas são alvo de depredação constante. Ele diz que as pessoas usam para fazer fogueira à noite. Mas nem por isso desanima: “pra cada uma [que destruírem], planto dez. E de dez em dez já são mais de cinco mil.” Hélio tem tudo anotado – o número de mudas e as espécies plantadas em cada final de semana e a localização.
“Não tô cobrando nada, é de graça. As melhores coisas da vida são de graça,” sorri enquanto volta a identificar as espécies: angico, calabura, jambolão, cipreste, cedro, jurubeba, ingá, mulungu, paineira, jatobá, eritrina…

Texto retirado do site http://indefinidoparadeiro.wordpress.com/2007/10/06/

Um comentário:

RF disse...

Meu nome é Roberto...
Conheci o Sr. Hélio, um homem de paixão arrebatadora pela natureza, por intermédio desse texto acima, suas realizações pelo seu idealismo ja resulta em grandes mudanças sentidas e apreciadas pelos moradores locais, ou por quem passa pela região, é com grande satisfação que em primeira mão apresento o blog que passará a ser um meio de comunicação para todos que apreciam o Parque Tiquatira e a natureza.